Edição do dia 06/06/2013
06/06/2013
09h56 - Atualizado em 06/06/2013 12h38
As células-tronco desenvolvidas a partir dos dentes
se transformam em neurônios. A partir disso, é possível entender melhor o que
causa o autismo.
Pesquisadores de São Paulo estão usando os dentes
de leite de crianças em estudos sobre o autismo. A pesquisa usa
engenharia genética. A partir do dente de leite de crianças com autismo, os
pesquisadores conseguem desenvolver células-tronco que se transformam em
neurônios. Com isso, eles podem entender melhor o que causa o autismo.
Rafael é só carinho com a mãe. O menino foi
diagnosticado autista quando ainda era um bebê, aos 15 meses. As dificuldades
dele alertaram os pais.
“A gente observou que ele tinha de verdade um
desenvolvimento muito diferente da minha filha mais velha. Muito mais atrasado,
entre aspas, do ponto de vista de fala, de início da tentativa de comunicação”,
conta Alessandra Camargo Ferraz, mãe de Rafael.
Agora, aos dez anos, Rafael é um personagem
importante em uma pesquisa inédita no Brasil. Os dentes de leite dele e de
outras crianças autistas vão para o laboratório de célula-tronco da USP e
ficam sob os cuidados da doutora Patricia e sua equipe.
“Assim que o dente chega aqui no laboratório, a
gente pega esse dente, extrai as células do recheio do dente, coloca essas
células em uma plaquinha e, a partir daí, a gente começa a nossa brincadeira”,
declara Patrícia Beltrão Braga, coordenadora da pesquisa.
Brincadeira é maneira de dizer. Com base em uma
descoberta do japonês Shinya Yamanaka, vencedor do Nobel de Medicina de 2012, a
cientista conseguiu reprogramar as células.
Dentro de placa estão células-tronco adultas, que
foram retiradas do dente. Os pesquisadores colocam o vírus e elas se
transformam em células-tronco embrionárias. É como se elas voltassem no tempo,
e essas células embrionárias podem se transformar em qualquer tecido. Coração,
rim, pulmão. E também neurônios. E esse é o foco do estudo.
A ciência ainda conhece pouco sobre o autismo. Sabe
que causa alterações no cérebro, principalmente nos neurônios. Com a pesquisa,
os cientistas comparam os neurônios de uma criança normal à de outra com a
doença e começam a entender melhor como as células funcionam.
O próximo passo é testar medicamentos nesses
neurônios e observar como eles reagem. “Se a gente encontrar uma droga
que seja capaz de reverter esse sintoma, de deixar essa célula parecida com a
de um paciente normal, que não tem autismo, a gente pode acreditar que estamos
muito perto da cura”, explica a coordenadora da pesquisa
É nisso que Alessandra acredita. “Um adulto mais
capaz, mais independente, mais forte, é tudo o que a gente quer”, declara
Alessandra.
Para esse trabalho continuar, os pesquisadores da
USP dependem da doação dos dentes de leite das crianças com autismo, e já
recebeu cem dentinhos.
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